terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Espera e Esperança: Lucas 02:22-40

Pouco tempo depois do nascimento de Jesus, ainda como uma criança recém nascida, ele, segundo o Evangelho de Lucas, para cumprir muito daquilo que já havia sido anunciado pelas escrituras, pelos profetas, passa por dois momentos de encontro - ele precisa se encontrar com algumas pessoas. E esses são dois encontros marcantes em sua história, momentos para pontuar. Mas, lendo Lucas, vemos que são marcantes principalmente e de forma muita especial para as personagens que fizeram parte deles. O primeiro é com os pastores (de Lucas) ou com os magos (de Mateus), que se deu, conforme os evangelhos, dentro do contexto de seu nascimento, como recém nascido ou como uma pequena criança. É quando ele ganha os seus primeiros presentes. E o segundo encontro é o que lemos, com Simão e Ana, no dia de sua consagração. 

Segundo Lucas, depois do cumprimento dos dias de purificação, conforme a lei, José, Maria e Jesus deixaram Belém, vilarejo próximo à capital Jerusalém, e foram para lá, para, também, conforme a lei, consagrar o menino Jesus a Deus, é o verso 23: “como está escrito na Lei do Senhor: "Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor"”. Ali eles oferecem o sacrifício requerido, duas rolinhas ou duas pombinhas, oferta e sacrifício de gente pobre, conforme eles eram, conforme era previsto. Tudo foi feito conforme a antiga lei, a lei de Moisés, conforme os costumes do povo, conforme tinha que ser feito. O que provava a preocupação dos pais de Jesus com o cumprimento das prescrições, e também a participação deles na comunidade de fé deles. Eles fazem parte, são parte, cumprem com a parte deles. Só depois disso tudo, da consagração comum, aparecem Simão e Ana (personagens exclusivos de Lucas), que vão se encontrar com Jesus, e que, nesse encontro, serão profundamente marcados. Aqui começa nosso caminho em reflexão.

É difícil identificar Simão e Ana, num primeiro momento. Simão talvez fosse um sacerdote do baixo-clero do templo de Jerusalém, um sacerdote sem muita importância, que estava ali exatamente para receber e atender os que a ele fossem comuns, gente também sem muita importância, como a família de Jesus, gente simples, gente comum. É Simão que o toma nos braços e ora, versos 28ss. No entanto, Lucas não diz que ele era sacerdote. Apenas diz que ele era “justo e piedoso” (verso 25), e que “esperava”. Por outro lado, talvez Simão fosse um tipo de sábio – ser justo e piedoso era característica dos sábios antigos, que ficava por ali para ouvir as pessoas e as aconselhar conforme a lei e a vontade de Deus. Sua idade avançada o ajudava nisso, pois, naquele tempo, diferente de hoje, uma voz mais velha era, na maioria das vezes, escutada. É um homem piedoso, de uma espiritualidade sensível. Segundo o texto ele é impelido pelo Espírito Santo para ir ao templo encontrar-se com Jesus (verso 27). A outra era a Ana, profetisa. Ela é, conforme o texto, “filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era muito idosa, tinha vivido com seu marido sete anos depois de se casar e então permanecera viúva até a idade de oitenta e quatro anos. Nunca deixava o templo: adorava a Deus jejuando e orando dia e noite” (versos 36 e 37). Dentro do costume daquela época, a mulher que ficasse viúva precisa de um homem para protegê-la. Assim, ou voltava para a casa do pai, ou ficava sobre a guarda de um filho homem, geralmente o mais velho, ou se casava outra vez, o que era raro, ou ia viver no templo, para trabalhar e ser sustentada pelos serviços do templo, foi o que a Ana fez. Ela é também um tipo de conselheira, provavelmente de mulheres e mães. É uma velha sábia. Piedosa e devota. Torna-se ali a primeira anunciadora de Jesus, a primeira pregadora: “deu graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que “esperavam” a redenção de Jerusalém” (verso 38).

Por outro lado, se é difícil identificar quem são Simão e Ana, é fácil perceber o que eles são, são símbolos de uma espera que acabava ali. O Jesus menino é ali, também e num primeiro momento, um fim. Lucas foi de uma felicidade incrível quando escolhe como texto, para o texto, para sua leitura do Jesus menino que vai terminar um ciclo de espero, dois velhinhos, Simão e Ana. Não há melhor exemplo de espera do que uma pessoa idosa. Eles estão ali, Simão e Ana, conscientes de seu mundo, conhecedores de suas histórias, viram e viveram tudo aquilo, e ainda estavam vendo e vivendo. É um lindo exemplo. Eles estiveram ali por tanto tempo, e esperavam. A fala do Simão também é linda: "Ó Soberano, como prometeste, agora podes despedir em paz o teu servo. Pois os meus olhos já viram a tua salvação, que preparaste à vista de todos os povos: luz para revelação aos gentios e para a glória de Israel, teu povo" (versos 29-32). Simão tem plena consciência, sua espera acabou. Enquanto isso, a Ana, convida outras e outros que também esperavam para ouvir do menino: “falava a respeito do menino a todos os que esperavam [...]” (verso 38). Talvez dizendo: "a nossa espera acabou". O Jesus menino nos braços de Simão e Ana, dois idosos símbolos de uma antiga espera, torna-se para eles, para muitos os outros lá, e para muita gente ainda aqui, que ainda vivem a angústia da espera, um fim, um acabou, não é mais preciso esperar. Mas não foi só isso, e não é só isso. Quando a espera de Simão e Ana acaba, com o encontro deles com Jesus, algo também começa, ou melhor, nasce. Nasce junto com Jesus, nasce junto com o primeiro Natal, a esperança.

Com toda a certeza Simão e Ana não viram o que Jesus fez, não viram o que aconteceu, o que foi dito por ele, o que ele ensinou e deixou, os milagres, as curas, as palavras, não viram nada além do menino. Mas isso não tirou deles a alegria do momento, acabou, nem a certeza de que a sua espera tornou-se ali uma esperança real.

Em breve vamos nos encontrar com o menino da manjedoura, mesmo que de forma simbólica no dia de Natal. Olhar para ele, e ver nele o fim de nossa espera. Pois olhar para o menino Jesus é desconstruir em nós toda a necessidade daquilo que esperamos, é diminuir as importâncias dadas ao que é e se mostra pouco, é diminuir e desfazer os sonhos vazios. É ver que nele tudo o mais diminui e desaparece, e de que nele o todo se faz e se faz sempre novo. O que ficou para trás ficou para trás. Jesus é o fim da nossa espera. Mas é também mais do que isso. Pois olhar para o menino Jesus é entender e se preencher do novo, é o começo de novo tempo, esperança. É ver começar ou ver nascer a esperança. Para você, para mim, para todos. É redescobrir os sonhos, rever e redescobrir a vida, mudar ou converter os valores, criar e recriar as forças para poder continuar. É ver que o difícil se faz fácil, que o doloroso e o que faz doer – o que machuca – tem cura, que o choro tem consolo, que a vida tem solução, apesar de tudo. Em Jesus, mesmo ainda menino, muita coisa termina (basta agora a você determinar o que termina) e muita coisa começa (agora basta a você reconstruir a sua esperança ou seu recomeço). 

Nenhum comentário: