domingo, 9 de dezembro de 2012

Cântico Novo: Salmo 96

"Cantai ao Senhor um cântico novo" (na versão que eu leio, NVI: "Cantem ao Senhor um novo cântico"), essa é frase que fica quando lemos o Salmo 96, ou é a frase que vem quando pensamos no Salmo 96. Pois ouvir ou lembrar da frase: "cantai ao Senhor um cântico novo", é também lembrar do Salmo, mesmo que não se lembre bem de qual Salmo é, pois a mesma expressão também aparece no Salmo 40 (de uma forma diferente) e no Salmo 98 (Ipsis Litteris). Ouvir ou lembrar da frase é também lembrar do cântico que cantávamos. Lembro-me dele pelos "Vencedores por Cristo" (fiquem tranquilos porque eu não vou arriscar cantar). E fica porque é um negócio bonito: "um novo cântico". Fica porque, além de bonito, causa entusiasmo. É algo que gera em quem ouve a frase um certo sentimento de alegria. Faz a gente sorrir. Não dá para explicar, só é possível sentir. Pois é um cântico, é novo e é para cantar, e cantar ao Senhor. É um convite: "cantem", "cantem ao Senhor um novo cântico". Mas e talvez fique - e aqui começa a minha leitura do Salmo - porque nos apresente o "novo".  

A gente está no fim do ano. Dezembro é um mês de transição. É como se fosse possível deixar as coisas velhas para trás (não digo que não dá e nem digo que dá) e fazer tudo diferente, melhorar muita coisa, mudar muita coisa, recomeçar muita coisa, começar muita coisa, terminar muita coisa, mas tudo sempre - se possível - de uma forma diferente. Experimentar o "novo" é algo sempre muito bem-vindo. Pois quase sempre "o novo" cria sentido, cria perspectivas, cria caminhos, cria ânimo, cria e recria sonhos, esperanças. O novo renova. Principalmente quando o que ficou para trás na vida da gente era tristeza e peso. E, em verdade, em grande parte, é sobre isso que os salmistas estão falando.        

É perceptível nos Salmos, no 96 que lemos, no 98 e no 40, que o cântico novo é um cântico de um tempo novo. Em verdade, um cântico novo só é possível dentro de um tempo novo. No Salmo 40 o salmista começa dizendo: "Coloquei toda minha esperança no Senhor; ele se inclinou para mim e ouviu o meu grito de socorro". O que significa que o que havia antes era um tempo de sofrimento, tanto para ele, o salmista, quanto para o seu povo. No Salmo 98, até o verso 03, o salmista fala de coisa maravilhosas que foram feitas pelo Senhor (verso 01), um braço santo que conduz à vitória (verso 01), justiça recriada (verso 02), a fidelidade e o amor que o Senhor se lembrou que tinha com seu povo (verso 03). Antes daquilo o tempo certamente era diferente daquilo que o salmista está pintado. Só pode ser conduzido à vitória quem antes estava perdendo, se a justiça está sendo feita é porque antes o que estava acontecendo era injusto, se Deus se lembrou de seu amor e fidelidade é porque este amor e fidelidade não estavam sendo sentidos. No Salmo 96 o que é proclamado é a "salvação" (verso 02). Ele reina, ele julga, ele faz justiça (verso 10). O tempo agora é outro, é novo. Salmo 40: 02-03: "Ele me tirou de um poço de destruição, de um atoleiro de lama; pôs os meus pés sobre uma rocha e firmou-me num local seguro. Pôs um novo cântico na minha boca, um hino de louvor ao nosso Deus". Um tempo novo que exigia um cântico novo, não mais de lamento, mas de alegria.

Talvez por isso o salmista nos convide de uma forma tão entusiasmada. Se o tempo é novo cantem de forma nova. Cantem vocês, cantem todas as nações, cantem todos os povos, cantem todas as gentes, cantem até mesmo os céus, a terra, o mar, os campos, as árvores, as florestas (verso 11 e 12). Tudo deve cantar no entusiasmo do tempo que se faz novo e, principalmente, sem sofrimento. E isso não se explica, pois não pode ser entendido, apenas vivido. Em Apocalipse 14:03 há algo muito interessante quanto a isso: "Eles (os 144 mil, representação da totalidade daqueles e daqueles que estavam sofrendo o martírio no período da perseguição do final do primeiro e início do segundo século) cantavam um cântico novo diante do trono, dos quatro seres viventes e dos anciãos. Ninguém podia aprender o cântico, a não ser os cento e quarenta e quatro mil que haviam sido comprados da terra". Pois o "cântico novo" não se aprende, não é "ensinável", é apenas experimentável. Só eles podiam aprender o sentido de um "cântico novo" num tempo novo. Pois só eles haviam experimentado o antes para agora poder viver o depois.           

O novo está aí, falta pouco. O novo está aqui. O tempo é novo, se fez e se fará novo. Mas, antes de cantar é preciso compreender que o novo, antes de ser um tempo, antes de ser novidade, antes de se apresentar como começo, recomeço ou solução, o novo é um "sentimento". Começa por dentro antes de ser visível por fora. Mexe por dentro antes de mexer por fora. Faz novo uma porção de coisas dentro da gente antes de fazer novo uma porção de coisas fora da gente. Faz nova a vida antes da vida se tornar nova. Do contrário, tudo será igual apesar de ser diferente, tudo será o mesmo apesar de ser um outro tempo, o novo ano será tão velho quanto todos os outros que passaram, e o cântico, num outro ritmo, com outra melodia, com um outro tom, e talvez um letra nova, continuará sendo o mesmo.

Um cântico novo começa em um tempo novo, um tempo novo começa em um sentimento novo, um sentimento novo começa no Cristo que sempre faz nova todas as coisas. E me parece que o Salmo 96 e o 98 estão cheios disso, desse entusiasmado convite. "Cantem ao Senhor um novo cântico" não é apenas a troca de um cântico de lamento por um cântico de alegria, não é apenas a percepção de um tempo que se faz novo, antes difícil agora legal, é, antes de todo, um convite a um sentimento novo, um novo espírito, uma nova vida. Mas isso não se aprende de ensinar, se aprende de viver. Então vivam, se façam novos e cantem, hoje, em 2013 (caso o mundo não acabe mais uma vez) e em todos os outros anos do resto de nossa vida.  

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