"Cantai ao
Senhor um cântico novo" (na versão que eu leio, NVI: "Cantem ao
Senhor um novo cântico"), essa é frase que fica quando lemos o Salmo 96,
ou é a frase que vem quando pensamos no Salmo 96. Pois ouvir ou lembrar da
frase: "cantai ao Senhor um cântico novo", é também lembrar do Salmo,
mesmo que não se lembre bem de qual Salmo é, pois a mesma expressão também
aparece no Salmo 40 (de uma forma diferente) e no Salmo 98 (Ipsis
Litteris). Ouvir ou lembrar
da frase é também lembrar do cântico que cantávamos. Lembro-me dele pelos
"Vencedores por Cristo" (fiquem tranquilos porque eu não vou arriscar
cantar). E fica porque é um negócio bonito: "um novo cântico". Fica
porque, além de bonito, causa entusiasmo. É algo que gera em quem ouve a frase
um certo sentimento de alegria. Faz a gente sorrir. Não dá para explicar, só é
possível sentir. Pois é um cântico, é novo e é para cantar, e cantar ao Senhor.
É um convite: "cantem", "cantem ao Senhor um novo cântico".
Mas e talvez fique - e aqui começa a minha leitura do Salmo - porque nos
apresente o "novo".
A gente está
no fim do ano. Dezembro é um mês de transição. É como se fosse possível deixar
as coisas velhas para trás (não digo que não dá e nem digo que dá) e fazer tudo
diferente, melhorar muita coisa, mudar muita coisa, recomeçar muita coisa,
começar muita coisa, terminar muita coisa, mas tudo sempre - se possível - de
uma forma diferente. Experimentar o "novo" é algo sempre muito
bem-vindo. Pois quase sempre "o novo" cria sentido, cria
perspectivas, cria caminhos, cria ânimo, cria e recria sonhos, esperanças. O
novo renova. Principalmente quando o que ficou para trás na vida da gente era
tristeza e peso. E, em verdade, em grande parte, é sobre isso que os salmistas
estão falando.
É perceptível
nos Salmos, no 96 que lemos, no 98 e no 40, que o cântico novo é um cântico de
um tempo novo. Em verdade, um cântico novo só é possível dentro de um tempo
novo. No Salmo 40 o salmista começa dizendo: "Coloquei toda minha
esperança no Senhor; ele se inclinou para mim e ouviu o meu grito de socorro". O que significa que o que havia antes era um tempo de sofrimento,
tanto para ele, o salmista, quanto para o seu povo. No Salmo 98, até o verso
03, o salmista fala de coisa maravilhosas que foram feitas pelo Senhor (verso
01), um braço santo que conduz à vitória (verso 01), justiça recriada (verso
02), a fidelidade e o amor que o Senhor se lembrou que tinha com seu povo
(verso 03). Antes daquilo o tempo certamente era diferente daquilo que o
salmista está pintado. Só pode ser conduzido à vitória quem antes estava
perdendo, se a justiça está sendo feita é porque antes o que estava acontecendo
era injusto, se Deus se lembrou de seu amor e fidelidade é porque este amor e
fidelidade não estavam sendo sentidos. No Salmo 96 o que é proclamado é a
"salvação" (verso 02). Ele reina, ele julga, ele faz justiça (verso
10). O tempo agora é outro, é novo. Salmo 40: 02-03: "Ele me tirou
de um poço de destruição, de um atoleiro de lama; pôs os meus pés sobre uma
rocha e firmou-me num local seguro. Pôs um novo cântico na minha boca, um hino
de louvor ao nosso Deus". Um tempo novo que exigia um cântico novo, não
mais de lamento, mas de alegria.
Talvez por isso o salmista nos convide de uma forma
tão entusiasmada. Se o tempo é novo cantem de forma nova. Cantem vocês, cantem
todas as nações, cantem todos os povos, cantem todas as gentes, cantem até
mesmo os céus, a terra, o mar, os campos, as árvores, as florestas (verso 11 e
12). Tudo deve cantar no entusiasmo do tempo que se faz novo e, principalmente,
sem sofrimento. E isso não se explica, pois não pode ser entendido, apenas vivido.
Em Apocalipse 14:03 há algo muito interessante quanto a isso: "Eles (os
144 mil, representação da totalidade daqueles e daqueles que estavam sofrendo o
martírio no período da perseguição do final do primeiro e início do segundo
século) cantavam um cântico novo diante do trono, dos quatro seres
viventes e dos anciãos. Ninguém podia aprender o cântico, a não ser os cento e
quarenta e quatro mil que haviam sido comprados da terra". Pois o
"cântico novo" não se aprende, não é "ensinável", é apenas
experimentável. Só eles podiam aprender o sentido de um "cântico
novo" num tempo novo. Pois só eles haviam experimentado o antes para agora
poder viver o depois.
O novo está aí, falta pouco. O novo está aqui. O
tempo é novo, se fez e se fará novo. Mas, antes de cantar é preciso compreender
que o novo, antes de ser um tempo, antes de ser novidade, antes de se
apresentar como começo, recomeço ou solução, o novo é um "sentimento".
Começa por dentro antes de ser visível por fora. Mexe por dentro antes de mexer
por fora. Faz novo uma porção de coisas dentro da gente antes de fazer novo uma
porção de coisas fora da gente. Faz nova a vida antes da vida se tornar nova. Do
contrário, tudo será igual apesar de ser diferente, tudo será o mesmo apesar de
ser um outro tempo, o novo ano será tão velho quanto todos os outros que
passaram, e o cântico, num outro ritmo, com outra melodia, com um outro tom, e
talvez um letra nova, continuará sendo o mesmo.
Um cântico novo começa em um tempo novo, um tempo
novo começa em um sentimento novo, um sentimento novo começa no Cristo que
sempre faz nova todas as coisas. E me parece que o Salmo 96 e o 98 estão cheios
disso, desse entusiasmado convite. "Cantem
ao Senhor um novo cântico" não é apenas a troca de um cântico de lamento
por um cântico de alegria, não é apenas a percepção de um tempo que se faz
novo, antes difícil agora legal, é, antes de todo, um convite a um sentimento
novo, um novo espírito, uma nova vida. Mas isso não se aprende de ensinar, se
aprende de viver. Então vivam, se façam novos e cantem, hoje, em 2013 (caso o
mundo não acabe mais uma vez) e em todos os outros anos do resto de nossa vida.
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